Archive for dezembro 2008
vídeo/entrevista “o outro estranho”
Lançamento do “Outro Estranho” em 2009 (versão PDF)
A leitura inaugural
O outro estranho é uma narrativa de muitas narrativas − esse acontecimento se traduz logo na enumeração de capítulos sugestivos em que nos deparamos com possibilidades de uma história híbrida de gêneros diversos − validados ao longo da obra. A abertura e o fechamento − em linguagem teatral − dimensionam tempo e espaço pouco convencionais para apresentar o tema que seguirá caminhos tortuosos – ações obsessivas − e, perigosamente, nos confrontamos com imagens em descrições atormentadas para traduzir um estado do personagem que nos comove em sua tentativa de se estranhar para se entender. Contar essa história é a grande manha do escritor − a organização temporal é feita de adiamentos e antecipações, de pausas e silêncios e nos alimentamos da incompreensão de tudo, somos pares do personagem, assim, como ele, não sabemos. Então, fará sentido continuar e continuar… para nos perdermos?
A linguagem é, por vezes, agressiva, escatológica e, assim, apresenta-se, ao que parece, intencionalmente, ao denunciar a ilusão do espetáculo de nosso tempo em que nominar é necessário diante da fragilidade do permitido − acredita-se ser possível reproduzir com as palavras a concretude de sentimentos e ações; enganados, respiramos e nos sentimos menos manipulados, será?
Ao subverter as regras de uma narrativa convencional, o autor cumpre outras, conhecidas, mas que só confirma que somos reféns de uma boa história e inauguramos sempre uma nova leitura ao mapear esse corpo desenhado − uma cena pensada por um escritor que deixa, agora, sua obra à deriva, para a experiência única de cada leitor.
Uma escrita é sempre uma ameaça à conformidade do lugar que ocupamos; nessa obra, é preciso o deslocamento, a aventura do mergulho, então… mergulhe.
Maria Luiza Medeiros Borges