lucas arantes

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Archive for setembro 2010

A Terível Voz de Satã, de Gregory Motton

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“vamos me leve à igreja de São José eu quero rezar

Você já está nela senhor

De joelhos então agora o que vai pedir à Sua Reverência? Um novo emprego ou uma nova vida? Vamos ponha sua cabeça pra funcionar eu não tenho o dia todo

Deve ser um sonho”

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“Que maldição é esta que força um homem jovem a gastar suas energias chutando seus próprios calcanhares e então esfarela sua vida no justo momento em que seus ouvidos ouvem o grande chamado do campo de batalha?”

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(“A Terível Voz de Satã”, de Gregory Motton. Tradução: Roberto Alvim)

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setembro 29, 2010 at 4:44 am

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“pele”, de Sarah Kane

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“Pele”, de 1997, é um argumento para televisão de 10 minutos escrito pela dramaturga Sarah Kane. Billy, um skinhead, se apaixona por Marcia, uma mulher negra. Isso pouco antes de matar um homem negro numa ação com seus amigos.

Escrito em 1995, a sua primeira emissão foi em 17 de Junho de 1997 para o British Channel 4. Ewan Bremner interpreta Billy e Marcia Rose a rapariga negra. O director foi Vincent O’Connell.

As doutrinas de Billy são exorcizadas por Marcia numa espécie de confinamento voluntário que o rapaz se propõem. Ela, para alimentar ele, serve ração enlatada, enquanto faz sexo e limpa suas tatuagens, literalmente, com uma bucha. E até sangrar. O corpo do rapaz deixa de denunciar seus ideais e ganha, talhado com uma faca, o nome Marcia em suas costas.

No final, um susto.

Written by lucasarantes

setembro 21, 2010 at 5:11 am

Publicado em cinema, teatro

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presente: Efterklang Mirador

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Written by lucasarantes

setembro 21, 2010 at 3:04 am

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“ânsia”, de Sarah Kane

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“E quero brincar de esconde-esconde e dar minhas roupas para você e dizer que eu gosto dos seus sapatos e sentar nos degraus enquanto você toma banho e massagear seu pescoço e beijar seus pés e segurar a sua mão e sair para jantar e não me importar quando você comer minha comida e encontrar você no Rudy e falar sobre o dia e digitar suas cartas e carregar suas caixas e rir da sua paranóia e te dar fitas que você não vai ouvir e assistir a belos filmes e assistir a filmes horríveis e reclamar do rádio e tirar fotos de você quando você estiver dormindo e levantar para te levar o café e pãezinhos e geléia e ir ao Florent e tomar café à meia-noite e deixar você roubar meus cigarros e nunca achar os fósforos e contar pra você sobre o programa de TV que eu vi na noite passada e te levar ao oculista e não rir das suas piadas e querer você de manhã mas deixar você dormir mais um pouco e beijar suas costas e acariciar sua pele e dizer quanto eu amo seu cabelo seus olhos seus lábios seu pescoço seus peitos sua bunda sua e sentar nos degraus e fumar até seu vizinho chegar em casa e sentar nos degraus e fumar até você chegar em casa e me preocupar quando você estiver atrasada e me surpreender quando você chegar mais cedo e te dar girassóis e ir à sua festa e dançar até não poder mais e me desculpar quando eu estiver errado e ficar feliz quando você me perdoar e olhar suas fotos e querer ter te conhecido desde que você nasceu e ouvir sua voz no meu ouvido e sentir sua pele na minha pele e ficar assustado quando você estiver zangada e um de seus olhos ficar vermelho e o outro azul e seu cabelo cair para a esquerda e seu rosto parecer oriental e dizer para você que você é linda e te abraçar quando você estiver ansiosa e segurar você quando você se machucar e querer você toda vez que eu te cheirar e te ofender quando te tocar e choramingar quando estiver do seu lado e choramingar quando não estiver e babar nos seus seios e cobrir você de noite e sentir frio quando você tirar meu cobertor e calor quando você não tirar e me derreter quando você sorrir e me acabar por completo quando você gargalhar e não entender por que você acha que estou te rejeitando quando eu não estou te rejeitando e pensar como você pôde achar que alguma vez te rejeitei e pensar em quem você é e te aceitar de qualquer jeito e te falar sobre o garoto da floresta encantada que atravessou o oceano porque te amava e escrever poemas para você e pensar por que você não acredita em mim e sentir tão profundamente que eu não ache palavras pra expressar esse sentimento e querer te comprar um gatinho do qual eu teria ciúmes porque ele teria mais atenção do que eu e deixar você ficar na cama quando você tiver que ir e chorar como um bebê quando você finalmente for e me livrar das pontas e te comprar presentes que você não queira e levá-los de volta e pedir para você casar comigo e ouvir você dizer não mais uma vez mas continuar pedindo porque apesar de você achar que eu não estava falando sério eu sempre falei sério desde a primeira vez que te pedi em casamento e vagar pela cidade achando que ela está vazia sem você e querer o que você quer e achar que estou me perdendo mas saber que estou seguro quando estou com você e te contar o que eu tenho de pior e tentar te dar o que eu tenho de melhor porque você não merece nada menos do que isso e responder suas perguntas quando eu preferir não responder e dizer a você a verdade mesmo quando eu realmente não queira e tentar ser honesto porque eu sei que você prefere assim e achar que está tudo acabado mas agüentar por mais dez minutos antes de você me jogar fora de sua vida e esquecer quem eu sou e tentar ficar mais próximo de você porque é lindo aprender a te conhecer e vale a pena o esforço e falar mal alemão com você e falar hebraico pior ainda e fazer amor com você às três da manhã e de alguma forma de alguma forma de alguma forma expressar um pouco deste esmagador embaraçoso interminável excessivo insuportável incondicional envolvente enriquecedor-de-coração ampliador-de-mente progressivo infindável amor que eu sinto por você.”

(“Ânsia”, de Sarah Kane)

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setembro 19, 2010 at 9:00 pm

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“palindromes”, de todd solondz ou diálogos desesperados

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O filme “Palindromes”, de Todd Solondz , é um pesadelo. Ou seja: uma fábula sobre a desgraça.

Como dizem, o filme é sim um “Alice no País dos Horrores”.

Um mergulho no momento da cegueira de Édipo.

Fatalista.

Nas palavras de Mateus Barbassa: “Um conto de fadas pós-dramático desesperançado e cruel”.

Talvez seja a ficção sobre o aborto, buscando amenizar a tragédia, ao pensar sobre ela.

 

O Diálogo do Desespero

MULHER: Acha que vou acabar como ela?

HOMEM: As pessoas sempre terminam do jeito que começaram. Ninguém nunca muda. Acham que mudam, mas não mudam. Se for do tipo deprimida agora, vai ser sempre assim. Se for alegre e descerebrada, vai ser assim quando crescer. Pode perder peso, perder as espinhas, ficar bronzeada, aumentar os seios, mudar de sexo, não faz diferença. Essencialmente está firme de frente, mas de costas… Mesmo se tiver 13 ou 50 anos, sempre será a mesma.

MULHER: Você ainda é o mesmo?

HOMEM: Sim.

MULHER: Está contente por ser o mesmo?

HOMEM: Não importa se estou contente, não há livre arbítrio. Não tenho escolha a não ser escolher o que escolho. Fazer o que faço. Viver como vivo. No fim somos apenas robôs programados arbitrariamente pelo código genético da natureza.

MULHER: Mas não há nenhuma esperança?

HOMEM: Pra que? Sentimos esperança e desespero por causa do jeito que fomos programados. Genes e aleatoreidade. Só há isso e nada disso importa.

MULHER: Isso que dizer que você nunca vai casar e ter filhos?

HOMEM: Não tenho nenhum desejo de casar e ter filhos. Está além do meu controle. Também não faz diferença nenhuma. Já que os recursos naturais do planeta estão acabando rapidamente, nenhuma de nós vai sobreviver até o próximo século.

MULHER: Mas e se você estiver errado? E se houver um Deus?

HOMEM: Se isso te faz sentir melhor…

Written by lucasarantes

setembro 14, 2010 at 4:28 am

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trecho de “blasted”, sarah kane

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Cate – Imagina como devem estar seus pulmões.

Ian – Não preciso imaginar. Eu vi.

Cate – Quando?

Ian – No ano passado. Quando eu voltei da anestesia, o cirurgião trouxe um resto de carne nojenta, podre e fedida. Era o meu pulmão.

Cate – Ele tirou?

Ian – O outro já tá igual.

Cate – Então você vai morrer.

Ian – Vou.

(“blasted”, 1995,  sarah kane)

Written by lucasarantes

setembro 13, 2010 at 4:59 am

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pequena visão sobre “utopia”, de leo bassi

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Quantos sonhos a gente carrega, constrói no nascer do dia e morrem algumas horas depois?

Como é esquisito se sentir humano, sem seguranças, sem certezas, cheio de arrependimentos banais que parecem sufocar a nossa suposta e desejada pureza.

O erro. O improviso. A não ilusão.

Parece pouco, solto, sentimentos aleatórios que escrevo, mas quando fui assistir ao espetáculo “Utopia”, do palhaço italiano Leo Bassi, no Espaço Parlapatões (que comemorou 4 anos), não esperava ter que enfrentar os meus próprios defeitos tão de perto e, ainda por cima, me emocionar com eles.

Leve. Político. Humano. Esse é Leo Bassi. Um cara que carrega a máscara do palhaço, que carrega um fardo nas costas: o fardo de refletir, assistir e, claro, criticar o aglomerado de pessoas que se juntaram em um mundo cada vez mais sem espaço (por conta dos automóveis e das construtoras imobiliárias) e cada vez mais loteado (aqui é meu, o meu lugar, o meu espaço).

Como não lembrar do espetáculo “Prego na Testa”, solo de Hugo Possolo, que provoca os mesmos sentimentos, que cutuca (de forma direta ou indireta) ali, naquele lugar que a gente não quer falar muito?

Como fazer catapultar um futuro melhor se ainda nós ainda não somos fiéis aos nossos próprios desejos? E que coisa é essa do homem moderno querer se encontrar para desfrutar, em breve, um futuro feliz? Que estranho abdicarmos da nossa própria singularidade no agora em prol de um coletivo (cidade) que estabelecemos uma relação tão conflitiva e que temos um monte de crítica por não suprir os nossos próprios desejos.

Santa ignorância acharmos que são os outros que vão tapar os nossos buracos, já que a demanda que Leo Bassi coloca em seu espetáculo é, além das demandas mundanas, uma demanda filosófica e, portanto, política.

Estar no mundo e agir nele não como indivíduo, mas como um coletivo que já esteve aqui antes, e teve que ir embora.

Difícil?

Written by lucasarantes

setembro 12, 2010 at 3:50 am

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“O Sétimo Continente”, de Michael Haneke

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“O Sétimo Continente”, lançado em 1989, é o primeiro filme de Michael Haneke.

Uma máquina de lavar carros. O silêncio por dentro. A proteção dos vidros, uma camada, um escudo frágil contra o monstro da vida.

–         O que foi isso?

–         Nada não.

Um ruido de liberdade. O filme, de 1989, é uma afronta na sociedade de hoje que ainda não se libertou de certos conceitos para estar no mundo que acreditava antigamente.

Como recomeçar do zero depois de tanto tempo perdido? Impossível.

Haneke é um cineasta cruel. Não espere concessões ou cuidado para não desagradar o ouvinte. Pois a palavra é dura. E chega como ferro.

Ele trabalha com situações limites.

Uma família perdida, uma sociedade perdida, sempre em busca de um sentido, em busca de compreender o que se passa lá fora, de casa. Em busca de um marco zero para começar a dar sentido dentro de um mundo tão cheio de sentidos.

– Meu Jesus, deixe-me ser uma boa menina para ir ao paraíso.

A afirmação é de que aqui é o inferno. Que esse tipo de vida criado, cercado de cimento e tédio, é um fardo.

E a televisão que, ao invés de mero espetáculo, se mostra vazia dentro de um cômodo totalmente longe do universo estranho em que vivem as figuras televisivas, sempre mostrando, e não escondendo. Haneke esconde para poder mostrar. E faz isso como um compositor.

E uma praia. Que é quase uma pintura. Que é quase uma fuga desse espaço fechado. Uma praia sem ninguém. Quem ninguêm nunca alcança (como o céu longe desse inferno de gente?).

Pessoas que se uniram e formaram uma família que, infelizmente, para vergonha da espécie, não de certo. Isso é claro desde o começo. Aliás, o que é dar certo? Quando alguns dão errado?

Sem dúvida, no diálogo.

No filme, os personagens quase não se falam, já desistiram de se entender faz tempo.

E o diretor, como sempre, não mostra a morte. Por que talvez, aqui, ela representa o começo, e não o fim. Mito biblíco. Mito nosso. Mito que não deu certo. Como reiventar algo novo depois de tanto tempo insistindo no erro? Não está claro que o caminho é outro?

É sempre na busca por um começo. Talvez, para começar, é preciso deletar tudo o que existe. Apagar. Esquecer.

Como, em um cotidiano, podem surgir coisas tão assombrosas? O terror não está no sangue, está nos detalhes que o cineasta coloca.

E o olhar infantil que olha todo esse estranho com familiaridade?

(Se escrevo em fragmentos, é para não estragar o filme para quem não viu. Não quero, aqui, explicar o filme, pois nada melhor que o próprio filme para fazer isto. Quero apenas expor impressões de uma obra de arte para um dia eu consultar e lembrar do que eu achei).

E os cortes que o diretor faz lembram os cortes que o diretor Mateus Barbassa fez na encenação da minha peça “Suspensão”. Com precisão. Quese cirúrgico. Pois é arte, e está viva. E é preciso saber editar para alcançar o momento certo.

Você já caiu nessa rotina? Então foge.

Um diretor que faz mal. Não porque ele provoque por provocar, mas porque a própria arte dele se expressa de forma perturbadora, assim como o próprio contéudo, perturbador.

Written by lucasarantes

setembro 11, 2010 at 7:36 am

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retrato Leo Bassi

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O Bufão Italiano Leo Bassi em seu seu Pato Flotador, na Praça da Sé, em São Paulo

dia 10/09/2010

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setembro 10, 2010 at 9:24 pm

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o tempo do lobo, de Michael Haneke

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Um dos melhores filmes que eu vi nos últimos tempos. Indicação do blog de Mateus Barbassa, o filme “Le Temps du Loup” (O Tempo do Lobo), 2003, de Michael Haneke, com Isabelle Huppert, é um filme que atormenta e não consola.

Humanos vivem em um mundo que vem depois desse atual estágio de conforto que vivemos hoje (com coca-cola em qualquer esquina, posto de gasolina, água por telefone, comida em abundância, etc, etc). Isqueiros, água e cigarro em “O Tempo do Lobo”, valem ouro. Relógios são praticamente inúteis. Mini populações se unem e vivem vagando, caçando, matando e se protegendo em um mundo hostil. Uma sensação de tédio, incomunicabilidade e desespero.

Uma situação em que a terra é de ninguêm. A história não é um aconteciemento dramático. Uma coisa não leva a outra, leva sempre a um lugar desconhecido. A história é o cenário e a angústia é o pano de fundo. Não tem conclusão.  Não tem explicação do começo, como no livro “Ensaio sobre a Cegueira”, de José Saramago.

– Quais são os seus planos agora?

– Nada, não há o que fazer.

Quem são Os Justos mencionados no filme, que se matam ao invés de compactuarem com esse mundo pós-apocalíptico?

O filme me fez lembrar muito de José Saramago, que apesar de ter criado uma história, um mito, uma ficção sobre a falta de entendimento do homem, criou também um recorte sobre a barbárie em que vivemos hoje. Mas, nesse caso, Michael Haneke é maior, pois não explica, como Saramago. Haneke nos diz: Derrepente o mundo ficou assim e vamos ver o que acontece. Como se nada mais fosse impossível, nesse mundo onde o impossível já é visível.

O grito de indivialidade nos distanciou uns dos outros. Contar com alguêm no mundo hoje, é contar por um tempo determinado, já que as funções e as utilidades são altamente descartáveis. Quem não tem nada de valioso, morre. E nesse mundo, as únicas qualidades são: a capacidade de matar o outro, de atacar e de sobreviver, anulando a possibilidade do outro, e atuando sobre a fraquesa de cada um. Esse sim é o escolhido para continuar nessa tribo primitiva.

No filme, o melhor é ficar dormindo, no mundo dos sonhos, pois basta abrir os olhos durante a noite para presenciar uma brutalidade, um estupro, um roubo, uma tentativa de homicídio. Hoje, a crueldade tem outras máscaras, com proteção de instituições humanas que, infelizmente, autorizam e potencializam a loucura de uns.

O que fazer nesse oásis de horror? Lutar com as mesmas armas ou integrar o clã dos Justos, se jogando na fogueira durante a noite?

Para quem sobrevive, resta o delírio, essa capacidade humana de sonhar para tentar salvar a vida dos outros e a si próprio.

– Eu pensei que voce podia me ajudar

– Com o quê?

– Com tudo. Mas você destrói tudo…

Aviso: O take final é perturbador.

Written by lucasarantes

setembro 9, 2010 at 8:24 pm

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